
O Rio Grande do Norte tem o menor índice de insegurança alimentar do Nordeste, com 70,6% dos domicílios em situação de segurança alimentar, segundo dados do módulo sobre Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2025, divulgados pelo IBGE. Apesar do avanço, 29,4% das residências potiguares — cerca de 371 mil lares — ainda enfrentam algum grau de restrição no acesso a alimentos.
O levantamento indica uma redução de 8,7 pontos percentuais em relação a 2023, quando 33,7% das famílias estavam em situação de insegurança alimentar. Mesmo com a queda, o índice potiguar permanece acima da média nacional, que é de 24,2%. Entre os estados do Nordeste, o RN lidera, à frente do Ceará (69,5%), Paraíba (67,6%) e Sergipe (65%).
A secretária estadual do Trabalho, Habitação e Assistência Social (SETHAS), Íris Oliveira, atribui os resultados a políticas públicas voltadas à ampliação do acesso à alimentação e à rede de proteção social. “Pelo terceiro ano consecutivo, o RN aparece liderando a superação da fome e a insegurança alimentar grave no Nordeste (Pesquisas Penssan e Pnad Contínua publicadas em 2024 e a atual)”, destacou.
Entre os programas estaduais, a secretária citou o Programa Leite Potiguar, que beneficia 76 mil famílias com entrega diária de leite em todos os municípios, e o Programa Restaurante Popular, que oferece 38 mil refeições por dia em 113 unidades distribuídas por 34 cidades. Íris Oliveira também destacou a revitalização da CEASA com a criação do Banco de Alimentos e fortalecimento da alimentação escolar.
“É importante destacar que a segurança alimentar não é resultado somente do fornecimento de alimentos. Ela é resultado de ações intersetoriais, do direito à renda, ao trabalho, à educação, à saúde, do direito ao acesso a água, é resultado também do investimento em infraestrutura voltada a fortalecer o desenvolvimento econômico, do investimento em agricultura familiar e no agronegócio, na pesca e na economia solidária”, explicou a secretária.
Apesar dos avanços, o RN ainda enfrenta desafios. Segundo Íris Oliveira, é necessário “colocar o pobre no orçamento e compreender que a destinação de recursos para políticas que reduzem a pobreza e a fome não é gasto, é investimento na dignidade humana e na vida das pessoas. Garantir que todos tenham acesso a uma alimentação adequada é um compromisso que deve envolver todas as áreas do governo e da sociedade”.
De acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), utilizada pelo IBGE, 49 mil lares potiguares (3,9%) convivem com insegurança alimentar grave, quando todos os moradores, incluindo crianças, enfrentam falta de alimentos. A insegurança alimentar moderada atinge 6,3% dos domicílios, enquanto a leve, caracterizada por incerteza quanto ao futuro acesso a alimentos, representa 19,3% das residências.
A secretária também informou que a SETHAS, em conjunto com o CONSEA (Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional) e a CAISAN (Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional), está elaborando o Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, previsto para ser concluído até novembro. O documento estabelecerá metas e compromissos de todas as pastas do governo para a área.
Segundo Íris Oliveira, não há previsão de ampliação de novos equipamentos públicos de alimentação, como restaurantes populares, cozinhas comunitárias ou bancos de alimentos, por questões orçamentárias. “O foco é manter o funcionamento e a qualidade dos serviços já existentes. A segurança alimentar não é resultado somente do fornecimento de alimentos; é resultado de ações intersetoriais e investimentos estratégicos em toda a cadeia de produção e acesso”, concluiu.
Contexto nacional
Embora o RN lidere em segurança alimentar no Nordeste, o estado ainda apresenta índices de insegurança acima da média nacional. No Brasil, 24,2% dos domicílios relataram algum grau de insegurança alimentar em 2024, enquanto no RN o índice foi de 29,4%, evidenciando que, apesar dos avanços regionais, o estado ainda enfrenta desafios significativos para garantir o acesso pleno à alimentação.
Em termos absolutos, o país registrou um progresso importante: 2,2 milhões de domicílios deixaram a condição de insegurança alimentar em relação ao ano anterior. Esse avanço reflete uma diminuição nos três níveis de insegurança — leve, moderada e grave — e indica que políticas públicas, transferências de renda e programas sociais têm contribuído para reduzir a vulnerabilidade alimentar em parte da população.
Ainda assim, a insegurança alimentar continua concentrada em determinadas regiões e grupos sociais. As regiões Norte e Nordeste apresentam os maiores percentuais de domicílios afetados, com 37,7% e 34,8%, respectivamente, enquanto no Sudeste e Sul os índices são significativamente mais baixos. A situação é especialmente crítica em áreas rurais, onde a logística de abastecimento e a disponibilidade de alimentos frescos são mais limitadas. Além disso, famílias com menor renda per capita, mulheres chefes de família, pessoas negras e pardas, e indivíduos com menor nível educacional são mais suscetíveis à insegurança alimentar.