O tempo de espera para transplante de córnea no Rio Grande do Norte disparou nos últimos 10 anos. É o que informa uma pesquisa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que aponta que o Estado saiu de um tempo de espera de 119 dias em 2015 para 1.072 dias em 2024. A espera por uma córnea também aumentou no Brasil, saindo de uma média de 174 dias para 374. A Central de Transplantes do RN confirma os dados, apontando que a lista de espera no Estado para transplante de córnea é de cerca de 3 anos. Para mudar esta realidade, o Setembro Verde busca conscientizar a sociedade em prol da importância da doação de órgãos no país. Atualmente, a lista de espera por órgãos no Estado, incluindo córneas, rins, coração e medula óssea, ultrapassa as 1.000 pessoas.
Na avaliação de Rogéria Medeiros, coordenadora da Central de Transplantes do Rio Grande do Norte, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), o aumento na lista de espera se deve a fatores como a ampliação dos diagnósticos e, consequentemente, necessidade dos transplantes; o acesso à informação e a tratamentos por parte dos usuários e, em especial, com relação à pandemia de coronavírus, que acabou represando a quantidade de pacientes em espera e aumentando a lista, uma vez que pacientes mortos por covid-19 não podiam ser doadores.
“Acredito que o que aconteceu é o maior acesso da população aos serviços transplantadores. Está tendo mais acesso aos oftalmologistas, consequentemente mais diagnósticos estão sendo feitos, mais pacientes inscritos em lista. Nosso número de transplantes aumentou, mas as inscrições estão maiores”, disse.
“O tempo de espera médio para córnea no RN é de 3 anos. O número de doações sempre é menor do que o número de pacientes que precisa. E nunca sabemos quem vai precisar do transplante: podem ser por doenças genéticas ou adquiridas, como úlcera de córnea. Os motivos de indicação dos transplantes cresceram, mas as doações não acompanharam isso”, explica Rogéria Medeiros.
A coordenadora da Central de Transplantes no RN aponta ainda que o desconhecimento ainda é o principal entrave para o aceite das famílias em doar órgãos. “Os principais motivos alegados é de que querem o corpo íntegro, o que é uma falta de conhecimento, porque é uma cirurgia, que abre e será pontoado. O segundo ponto é o tempo de espera. Quando se diz “sim” à doação, começa-se uma corrida para sabermos quem é o receptor compatível. Colhemos exames de compatibilidade, provas de sangue, sorologias para hepatite, HIV, covid. Isso leva um tempo para ser processado e acaba atrasando velório, o sepultamento, e muitas vezes a família não quer esperar esse tempo”, comenta. Pela legislação brasileira, embora o paciente tenha deixado registrado em vida o interesse em doar os órgãos, a decisão final cabe à família. A cada 10 famílias entrevistadas, seis recusam as doações.
Ainda segundo Rogéria Medeiros, a rede credenciada no Estado ainda é insuficiente para dar vazão às demandas por transplante no Estado, atualmente concentradas em Natal e na região metropolitana. Ela cita que já há articulações com hospitais privados para ampliação da rede em andamento.
Fila de transplantes
O RN registra pelo menos 1.043 pacientes na fila de espera por transplantes no Estado, com as córneas representando a maior parte, com 656 pacientes. Os rins aparecem em sequência com 363 pacientes à espera, 22 de medula óssea e 2 pacientes de coração. Os dados são da Central de Transplantes divulgados no começo desta semana em alusão ao Setembro Verde.
Em cada caso, há uma complexidade diferente, com operações precisando ser feitas em poucas horas para garantir a utilização do órgão em outra vida. Em relação ao transplante de rins, por exemplo, a transferência para o novo paciente precisa ser feita em até 18h. Já com relação ao transplante de coração, o prazo é ainda mais curto: 4h.
Para agilizar esses prazos, a Sesap e a Central de Transplantes possuem um acordo de cooperação técnica junto ao Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), da Secretaria Estadual de Segurança Pública, para o translado ágil e rápido dos órgãos para as cidades onde estão os beneficiados. Em alguns casos, as transferências são feitas de maneira interestadual.
“Temos essa cooperação para eles levarem a equipe de helicóptero. Muitas vezes temos doações em João Pessoa e por algum motivo eles não puderam transplantar e aceitamos, vamos lá com esse apoio para pegar esse órgão”, complementa Rogéria Medeiros.