Foto: divulgação/Voltalia
Você já ouviu falar em curtailment? O nome em inglês significa o corte ou redução forçada na geração de energia renovável, mesmo quando a usina pode gerar. Os cortes acontecem por diferentes motivos, e os prejuízos já são sentidos pelo setor, inclusive no Rio Grande do Norte, que carrega protagonismo na área.
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), os prejuízos com o curtailment, nacionalmente, podem chegar a R$ 5 bilhões nos últimos três anos. A interrupção na geração da energia é determinada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reconhece três principais causas para o problema: razão energética, requisitos de confiabilidade elétrica e indisponibilidade elétrica.
O ex-senador e ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, explica que as causas do curtailment geralmente são circunstanciais. Mas, no momento, está havendo um corte por ausência de capacidade de escoar e de demandar, há cerca de dois anos, gerando assim o que ele classifica como a primeira grande crise do setor eólico.
“Não é uma coisa circunstancial e regional. É uma coisa que atinge as nossas eólicas e solares do Brasil equatorial, ou seja, do Norte e do Nordeste, por um tempo muito longo. Então, os parques eólicos, principalmente, e fazendas solares da nossa região, estão hoje sendo cortados em volumes muito maiores do que a margem de erro normal, habitual, e por muito tempo”, explica.
Com os cortes, ele diz que há empresas com prejuízos que ultrapassam até 50% do seu fluxo de caixa.
“Então, tem empreendimentos realmente que estão indo para o ‘vinagre’. Estão dando prejuízos enormes”.
Para o empresário Sérgio Azevedo, presidente da Comissão Temática de Energias Renováveis (COERE) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), o curtailment já é uma realidade que afeta fortemente o Rio Grande do Norte.
“Somos líderes nacionais em energia eólica, com cerca de 10 GW de capacidade instalada, mas sofremos com severas limitações na rede de transmissão”, aponta.
O empresário afirma que os cortes significam parques parados, contratos fragilizados e investidores vendo suas projeções inviáveis. De acordo com Azevedo, não é exagero dizer que, se esse cenário persistir, muitas empresas podem chegar à inviabilidade e até à quebra. O perigo de desinvestimentos para o Rio Grande do Norte já começa a se materializar, diz o membro da Fiern.
“Projetos estão migrando para estados como Bahia, Ceará e Piauí, que oferecem melhores condições de escoamento. Além disso, há um risco de desapego: empresas que ajudaram a construir a história do setor no RN já reavaliam planos de expansão e até transferem centros de decisão”, aponta.
As fontes renováveis de energia eólica, solar fotovoltaica, biomassa e hídrica representam 99,03% da matriz elétrica do RN quando se refere a potência outorgada. Já em relação a potência instalada, essas mesmas fontes somam 98,5% da geração de energia, o que torna o Rio Grande do Norte o estado mais verde e sustentável em matriz elétrica do país. Os dados são do Balanço do Setor Elétrico do RN – 1º semestre de 2025, divulgado em 10 de setembro pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Sedec).